Sigo com a publicação das notas da conferência, em Santiago de Compostela, de Antoni Melé Cartaña, Director da sucursal de Barcelona do banco ético - Triodos Bank.
No plano Social nunca como hoje se teve tanta consciência social no mundo. Existem milhões de pessoas, voluntárias, trabalhadores sociais, activistas, que em várias áreas e que se mobilizam através de várias formas de participação e organização (associações, fundações, ONG's, projectos humanitárias, ambientalistas, de paz, etc), que dedicam o seu tempo, o seu talento ás causas sociais. Contribuem decisivamente para mudar o Mundo para um Mundo Melhor (ref. Livro: "Como Mudar o Mundo").
No entanto, nunca o mundo conheceu tantas guerras como hoje. Relembremos que apesar do movimento mundial pela paz, que movimentou milhões de pessoas em todo o mundo, nas principais capitais de vários paises, contra a guerra no Iraque; em 2003 (com a hoje conhecida mentira das armas químicas/destruição massiva), os EUA e os seus aliados invadiram o Iraque.
Vale a pena perguntar, com tantas manifestações, com tanta pressão pública, o que faltou para evitar a Guerra?
Hoje continuam a existir guerras, algumas ainda mais cruéis que a do Iraque. Em África, por exemplo no Sudão, já terão morrido mais pessoas que no Iraque e no entanto... é uma contradição!
As contradições são importantes para nos fazer despertar. Então mais uma vez a questão é - O que podemos fazer, que ainda não foi feito, para mudar esta situação?
Vejamos o Económico. Nunca no mundo houve tanto dinheiro a circular. Nunca houve tanta riqueza como hoje em dia. No entanto... nunca houve tanta pobreza no mundo como hoje! A pobreza é um problema de tal dimensão que levou a ONU a convocar o encontro do Milénio, ponde ficaram definidos os Objectivos do Milénio (2000 - 2015). Onde estamos em 2007? Quantos desses objectivos foram alcançados, na primeira metade do plano? Muito pouco! O que levou o novo secretário-geral da ONU a convocar nova reunião (e muitas outras se tem sucedido) para incentivar os países que se comprometeram unanimemente, a por em prática esses Objectivos. Não se fez nada? Sim! Basicamente caridadade. A realidade conta que as massas de pobreza são maiores e continuam a crescer. Três mil milhões de pessoas vivem na pobreza absoluta, e um mil milhões estão abaixo do limiar da pobreza absoluta. Então e perante esta situação o que fazemos? O que estamos fazendo mal? Que parte de responsabilidade temos nesta situação? O que podemos fazer para mudar a situação? Qual é ou quais sãos as causas desta situação? As causas podem resumir-se a duas:
A primeira que está relacionada com a segunda; o modelo socio-económico actual, que não funciona e continua a gerar pobreza, atraso social, guerras, destruição do planeta. Com este modelo chegámos ao cúmulo de perder a noção do que é um Ser Humano.
Isto está promeira questão, está ligada á segunda causa, que é a Educação. Que valores nos inocularam? Que o Ser Humano é basicamente um animal (Teoria da Evolução). Sobrevivem os mais fortes. Ou seja vivemos todos numa selva modernizada, a que chamamos Sociedade. Os valores do Mercado Livre, que se baseia nas "leis" da oferta e na procura. Mas que "leis" são essas? Que leis inexoráveis são essas? Leis enexoráveis só podemos reconhecer na Natureza! Valores inexoráveis, só podemos reconhecer a Liberdade e a Consciência. O tempo (metoreológico) que faz hoje, se chove ou faz sol, é inexorável. Já a queda das acções na Bolsa não o é. Se observarmos como são dadas as notícias de um e outro tema: são dadas da mesma forma! Como a Bolsa fosse regida pelas tais leis inexoráveis! Não o é!
Importa que relembrar que o que destingue o Ser Humano dos demais é a dignidade. Então haverá outra forma de funcionar? Sim!
Por exemplo, o que nos leva a concluir que o modelo competitivo actual regido pelas "leis" da oferta e da procura não vai de encontro á nossa juventude? Porque será que tanta gente jovem se droga? Porque está a aumentar a violência juvenil nas escolas e nas ruas? Porque é um reflexo da sua impotência perante este modelo socio-económico que não agrada aos jovens! O modelo da luta competitiva não agrada aos jovens. Este modelo está a trazer cada vez mais sofrimento aos nossos filhos. Porque este modelo está baseado no egoismo que foi a base de todo a história da Economia desde a sua fundação no séc. XIX.
Então que alternativa temos a este modelo económico? Uma economia ética e solidária! A primeira questão que nos temos que colocar é: a mim, o que me gostaria de fazer nesta vida? Buscar um sentido ético para essa vida, é ter a consciência que no mundo para além de mim, existem outros humanos e o planeta. Ter consciência que as minhas acções têm repercursão no planeta terra.
O como é que podemos contribuir para uma alternativa com o nosso dinheiro? Recordemos que o dinheiro nasceu como meio de troca. Numa relação existe sempre um intercambio, e o valor é aquilo que necessitas.
Então que possibilidades dá o dinheiro ao mundo? Trocar o meu trabalho em qualquer parte do mundo por aquilo que necessito (bens e/ou serviços). Foi o que o dinheiro permitiu ao longo da história - o intercambio entre pessoas. Os templários foram dos primeiros a emitir cheques!
O que se passa hoje com o dinheiro? 98% é electrónico! O que ampliou ainda mais a possibilidade de intercâmbio entre as pessoas. O principio é bom, mas o seu uso é mau. Como possiblididade é bom, mas as consequências do seu uso estão á vista. Porque perdemos a consciência dessa relação de troca com outras pessoas.
O dinheiro pode ser usado de três formas básicas: compra, poupança e doação. Normalmente em qualquer destes três usos básicos (possíveis) não somos conscientes do seu uso. É aqui que podemos realmente contribuir para uma mudança radical - através da consciência do dinheiro, de como o usamos, de como o poupamos e de como o doamos.
As três questões básicas que podemos colocar quanto ao uso da compra são: Porque compro? O que compro? Onde compro? Por isso surgir o movimento do Comércio Justo.
Porque quando compro é importante ter a consciência se realmente preciso do que estou a comprar. Porque é importante a consciência do que estou a comprar, se é um producto originário de uma fábrica que explora crianças na China ou na India, ou se é produzido com porcessos químicos que estão a contribuir (ainda mais) para a destruição do planeta, e para as alterações climáticas.
Quanto á poupança. Quando poupamos estamos conscientes do que poupamos? Porque poupamos? Para quê? Poupamos basicamente por medo do futuro! Exemplo disso, a frase que ouvimos e repetimos aos nosso filhos - tens que estudar porque amanhã não sabes se não perderás um bom emprego que precisa de gente com estudos!... - isto é a educação baseada no medo que nos ensinaram os nossos pais e que estamos a ensinar aos nossos filhos!
Os bancos apareceram por isso mesmo - pelo medo! Para poderem tranquilizar as pessoas quanto a esse medo - o medo do futuro.
Um banco (de forma muito simplificada) tem um funcionamento muito básico - recebe as as poupanças do poupador, e financia com esse dinheiro os empreendedores/empresários que precisam do dinheiro para por as suas ideias em marcha. A função básica do banco neste triângulo é a de garantir liquidez. Gerindo os interesses, que a parte de juro/percentagem de riqueza gerada pelo empresário depois de pedir o seu empréstimo. Aqui volta a questão da consciência. Como poupamos, onde poupamos? Que fundos de investimento apoiamos? Já alguém se questionou onde põe o seu dinheiro? Que interesses são gerados com as suas poupanças? Pois é preciso estão consciente que hoje, os negócios que mais dinheiro movimentam no mundo são a guerra, a droga e o sexo! Então será importante ter a consciência de analisar onde poupamos o nosso dinheiro, analisar os nosso fundos de investimento. Olhar para a lista de empresas que compõe esses fundos!
"O nosso dinheiro é a nossa força para mudar o mundo!" Usar o dinheiro com responsabilidade e consciência está nas nossas mãos!
Aqui podemos questionarmos - existem alternativas? Sim! A banca ética. Aqui consideremos a terceira forma dse uso do dinheiro - a doação. Quando doamos não somos conscientes. Doar é dar o nosso dinheiro a outro para que o outro faça coisas. Sabemos que coisas vai fazer o outro? Quando doamos é importante sabermos e exigirmos saber onde se gasta o nosso dinheiro! Até os nossos impostos são uma forma de doação. Deveriamos exigir saber para onde vão e como são gastos (se em educação, protecção ambiental ou em armamento, apoio a industrias poluentes...).
Para ser livre é preciso ser consciente. Por isso é importante fazer doações conscientes. (existe mesmo um movimento sobre o Testamento Consciente). Então concluindo, se o mundo está mal é porque a Banca (baseada no tal modelo sócio-económico) está mal. Mais de 98% do dinheiro que se move no mundo é especulação! Para entender a Economia haveria que olhar para exemplos vivos - como o Ser Humano. Olhar para o sangue, para o coração... o coração é um orgão consciente. Não existe célula no corpo onde não chegue o sangue. Assim deveria ser a economia. O sangue/dinheiro deveria chegar a todo o tecido social!
A banca ética como alternativa, procura desalojar o medo do subconciente humano. A banca ética, continua a ter a viabilidade e o beneficío económico como os demais bancos, mas com a ética de redistribuir perante o humano e o ambiental.
Assim nasceu o projecto Triodos Bank, que tem origem na palavra grega e que significa triplo caminho. Um caminho de apoio á cultura, ao ambiente e em particular ás energias renováveis, e como terceiro eixo o apoio a projectos sociais.
Esta a forma como acreditamos que com consciência podemos o usar o poder que o nosso dinheiro nos dá para transformar o mundo num mundo melhor.
14 de maio de 2008
Por uma nova economia ética - parte II
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