9 de fevereiro de 2007

REFERENDO: Uma resposta consciente

SIM

REFERENDO: Carta aberta de Crentes para Crentes

"A despenalização do aborto não opõe crentes a não crentes. Porque o que nos é perguntado neste referendo não é se somos ou não a favor do aborto mas sim quem é pela penalização da mulher que aborta até às 10 semanas e quem é contra essa penalização e pela consequente mudança da lei,

A despenalização do aborto não opõe adeptos da vida a adeptos da morte. É perfeitamente compatível ser-se – em pensamentos, palavras e obras – contra o aborto, por uma cultura de vida plena e em abundância, e defender-se que a lei do Estado não deve impor que as mulheres que, em concreto, recorrem ao aborto nas 10 primeiras semanas de gestação sejam julgadas e punidas por essa decisão.

A despenalização não impede ninguém de continuar a bater-se pelas suas ideias e de lutar contra a prática do aborto. Mas sempre e só pelos seus argumentos e pelo seu testemunho, não por imposição da lei mais grave de todas, a lei criminal. Mais ainda: se todo o empenho em favor da promoção de condições de vida que desincentivem o recurso ao aborto é louvável, estamos crentes de que um tal trabalho só ganhará em credibilidade se deixar de ser feito à sombra de uma lei que mantém a ameaça de julgamento e de prisão para as mulheres.

Só com a despenalização do aborto, eliminando o aborto 'escondido' e clandestino, vai ser possível montar serviços de aconselhamento e apoio às mulheres que enfrentam o dilema de pôr ou não fim a uma gravidez indesejada. Na Alemanha, por exemplo, este serviço é prestado também por organizações católicas.

Os muitos homens e as muitas mulheres crentes que respondem SIM à despenalização do aborto até às 10 semanas afirmam uma convicção essencial: a de que não é nunca pela espada da lei que a fé se afirma, mas sim pela força do testemunho de vida e pela densidade do amor ao próximo. Na dureza de cada caso concreto e não por princípios gerais e abstractos. A um drama (o da mulher que aborta) não se responde com outro drama (o julgamento e a prisão dessa mulher). Todas e todos sabemos que a essas mulheres não se responde com uma lei que manda julgar e punir mas com compreensão e respeito. É isso, e só isso, que está em causa no referendo do próximo dia 11 de Fevereiro. E a isso respondemos SIM."

MOVIMENTO CIDADANIA E RESPONSABILIDADE PELO SIM

REFERENDO: Despenalizar não é Liberalizar

"Comunicar é pôr em Comum"
Carlos Grade, especialista em Comunicação

Creio que já aqui escrevi o suficiente, noutros tópicos, sobre o sentido do meu voto (SIM) neste Referendo. Não sinto por isso necessidade de argumentar, debater, ou defender esse ponto de vista que já foi esclarecido.
No entanto sinto que é fundamental escrever ainda sobre um dos aspectos que mais me "incomodam" na comunicação das várias posições que vou lendo, aqui neste fórum, como noutros meios.
Primeiro quero diferenciar, informação de comunicação. A informação, tem como fundamento a divulgação de factos, que correspondam, tanto a questões tangíveis ou intangíveis (físicas ou metafísicas), que relatem com tanta fidelidade quanto possível a realidade (visto ser impossível excluir o olhar de quem informa), procurando a "verdade", com sentido de ética e respeito pela diversidade de opiniões.
A comunicação, segundo um dos meus queridos mestres da comunicação, é algo diferente. Pôr em comum, significa, veicular num mesmo espaço, tempo, terrítório ou grupo, uma mensagem que queremos que seja lida, entendida, interpretada, tanto quanto possível, com um mesmo sentido, com uma mesma direcção. Podemos incluir nesta forma, a publicidade, a propaganda, a comunição empresarial, política, e outras formas, que podem veicular mensagens mais ou menos positivas, ,mais ou menos justas, etc.
Nesta campanha do Referendo que hojer termina, tenho observado vezes sem conta, a tentativa de tentar "pôr em comum" algumas interpretações da pergunta que recordo - Concorda com a despenalização da IGV, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Ora esta pergunta, aprovada pela maioria dos deputados da Assembleia da República, aprovada pelo Tribunal Constitucional, e homologada pelo Presidente da República, não deixa muitas margens para interpretações, ou leituras diversas do que lá está escrito em bom português.
Despenalizar
é claramente diferente de liberalizar. Dizer que este referendo é sobre a Liberalização do Aborto, ou dizer que é sobre a despenalização da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) é claramente diferente.
Mas há ainda a contextualização, isto é a definição de um conceito que determina os limites de tempo - até às 10 semanas - assim como as condicionantes quanto a quem e onde - por opção da mulher e em establecimento de saúde autorizado.
Sabemos que estás questões tem levantado muita discussão, e por vezes levam-nos para as margens do que é essencial neste referendo. Perante a pergunta, clara e inequivoca, se somos contra a penalização, logo pela despenalização, dentro das condições que a pergunta descreve, votamos SIM (mesmo que defendamos valores contrários, como os valores da Vida, da Consciência, da espiritualidade, como é o meu caso).
Se pelo contrário, concordamos que tudo fique como está, logo, se concordamos com a penalização (criminal, moral, ou de qualquer outro tipo), nas condições descritas na pergunta, votamos NÃO.
Recordo ainda que na lei, já é permitida a IVG, noutras condições (mal formação do feto, violação, e outras). Na essência a questão não é sobre ser contra ou a favor do Aborto. Não é sobre a liberalização do Aborto. Não é sequer sobre a despenalização do Aborto em qualquer situação. Mas sim nas condições formuladas na pergunta.

Abraço as mensagens deixadas por Cristo, Buda e tantos outros homens sábios que souberam cultivar a compaixão e o perdão. Alicerço nessa sabedoria a minha convição que a via para contribuir para diminuir as causas do sofrimento humano, estão na despenalização (não apenas legal, mas também moral , social e espiritual) daqueles seres que passam pela dura realidade do Aborto (mãe e feto).

7 de fevereiro de 2007

REFERENDO: Voto SIM. Digo NÃO...

Ponderei durante largas semanas, se faria sentido escrever sobre o Referendo, que irá decorrer no próximo dia 11 de Fevereiro. Neste, será solicitado aos portugueses, que se pronunciem sobre uma questão muito específica relacionada com a IGV - Interrupção Voluntária da Gravidez.
No preciso momento em que escrevo, sinto que estou com milhares de cidadãos, que se juntam neste movimento global de participação cívica e de cidadania. Uns por um lado, outros por outro, cada um com as suas razões, os seus argumentos, os seus valores, acreditando que são esses, os que defende, os mais justos, os mais realistas, os mais utópicos, os mais científicos, ou mais espirituais.
Ainda antes de mais considerações, quero desde já esclarecer o ponto fundamental da minha posição. Não me sinto de um lado ou de outro lado. Sinto-me nos dois ao mesmo tempo. No entanto, quanto à pergunta que está formulada, aprovada pela Assembleia da República, validada pelo Tribunal Constitucional e pelo Presidente da República, e submetida a referendo, eu respondo claramente e sem qualquer dúvida - SIM.
Recordo que a pergunta, é a seguinte:
— Concorda com a despenalização da IGV, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?
Porque voto SIM? E como consigo conciliar esse voto, com a minha consciência que é claramente desfavorável à IGV, ou de qualquer outra forma que contribua para eliminar a manifestação de Vida?
Num contexto complexo de opiniões, que convergem tanto num como noutro campo (o do SIM e o do NÃO), encontro posições que acolho dentro do meu quadro de valores, pessoais, sociais universais e espirituais.
Acredito que somos mais do que um corpo vivo. Somos uma consciência, antes antes de sermos o que quer que seja. Partilho da visão de algumas das principais correntes de pensamento e espiritualidade, como o Budismo, que acredita na nossa reencarnação (aliás visão partilha com os cristão, e algumas outras vias).
Nem sempre pensei assim. Durante muitos anos da minha vida, via o mundo de uma perspectiva muito separada, de um paradigma diferente daquele em que hoje me revejo.
No aqui e agora, sinto que em coerência posso e quero votar SIM, porque acredito com convicção numa via diferente da criminalização para defender a Vida. Creio nas mensagens que vários homens "santos" nos deixaram, como Cristo ou Buda, sobre a compaixão. Jesus terá sido um dos homens que mais pregou o perdão e o não-julgamento. Soube amar a todos, mesmo aqueles que todos rejeitavam, que a sociedade desdenhava, que os poderes religiosos excluiam do seu rebanho: prostitutas, bandidos, renegados, doentes, etc...
Não creio que o caminho para promover uma outra visão, um outro paradigma, passe por impor valores a ninguém. Jesus Cristo não fez, Buda não fez, Ghandi não o fez. Como a maioria dos grandes líderes espirituais que cultivaram a paz, e a compaixão, souberam partilhar os seus valores e a sua visão para o mundo, sem o recurso à espada, mas sim pelo coração.
Por isso entendo que não faz sentido continuar com o julgamento, a humilhação, e aprofundamento das causas do sofrimento humano das mulheres que decidem tomar tão drástrica decisão para as suas vidas - interromper uma outra vida, que se manifesta dentro de si (independentemente do momento, e das razões pelas quais o decide fazer).
Acredito, que o nosso trabalho, poderá concentrar-se na informação, aconselhamento, acompanhamento, desenvolvimento de uma outra consciência que respeite a Vida, em todas as suas formas de manifestação (não apenas humana) e que esse salto de desenvolvimento da consciência nos possa encaminhar para uma vivência mais saudável, mais harmoniosa, conosco mesmos, com a sociedade e com o planeta.
Votando SIM, acredito que estarei a contribuir para dar esse passo. Votando NÃO, acredito que estarei a participar de um julgamento público, aprofundando o estigma pessoal, social e de consciência sobre aquelas mulheres que continuaram a decidir para lá dos valores que possamos defender. Votando NÃO tudo ficará na mesma. Votando NÃO, estarei escolhendo o caminho do chicote, da punição e da condenação...
Votando SIM, ofereço o meu coração pleno de compreensão e compaixão, sem julgar nem condenar aquelas mulheres que tomem tal decisão.