17 de novembro de 2006

Capital Cultural

Andamos tantas vezes desiludidos, desacreditados, ou acreditando no inacreditável, de que quem se dedica á cultura, ou é um "parasita" ou é "subsídio-dependente" dos apoios "caridosos" do Estado, dos Institutos (do Estado), das Câmaras Municipais (excluindo a do Porto), de alguns Mecenas, e de algumas empresas interessadas nos benefícios fiscais (entre as quais, faça-se justiça, uma minoria que faz desse apoio uma aposta estratégica). Salvo alguns raros "carolas das artes" que se auto-financiam, e que tendo ou não pais ricos, (ou tendo, ou não ganho a lotaria), investem dos seus próprios recursos, o que tem e não tem para continuar contribuindo para o "bem comum" que é a cultura.
Tudo isto para dizer que se não tivesse lido pelo menos três vezes não teria acreditado!!! - foi capa do Público, "CULTURA COM MAIS PESO NA ECONOMIA EUROPEIA DO QUE SECTOR AUTOMÓVEL". Este foi o tema de destaque escolhido, na edição de ontem, e que no interior abre com um titulo ainda mais elucidativo - "É A CULTURA, ESTÚPIDO!" - para se referir a um estudo da União Europeia que faz uma avaliação (económica, diga-se, e pasme-se!) sobre o contributo das actividades culturais para o PIB da comunidade Europeia.
Não vos vou maçar com transcrições na integra do artigo, que podem ler, se acederem ao link que vos indico. No entanto não quero deixar de, a partir notícia, fazer o meu comentário sobre este tema, tantas vezes desprezado e maltratado pelos "poderes" instituidos no nosso, e noutros países.
Para quem, como eu, se dedica desde a sua juventude à cultura (no sentido mais lato), e ouve anos e anos a fio, de que a cultura é uma coisa subsidiária da economia de um país, que o dinheiro gasto com a cultura é um custo e não um investimento, é reconfortante ler notícias assim!
Quero manifestar o meu regojizo por saber, ao contrário do que apregoam nos últimos anos muitos arautos da gestão, das finança, do neo-liberalismo, das mentes obcurantistas, dos opinion-makers, dos "marketeiros", que a cultura confirma neste estudo o seu papel indesmentível para o desenvolvimento humano, em particular na Europa.
Que os artistas, escritores, poetas, criadores, designers, arquitectos, programadores culturais, fotógrafos, realizadores de cinema, e tantos e tantos milhares de talentos, saibam elevar a sua auto-estima. Que vejam finalmente reconhecido o seu contributo inestimável para o crescimento e a sustentação da economia da Europa, berço da cultura Ocidental. Que nunca mais esqueçam que o seu papel é mais importante que alguns dos mais previligiados sectores económicos, beneficiários de largos milhões de euros dos Estados da União, como o sector automóvel (largo contribuidor para as alterações climáticas), e que o resultado do seu trabalho é gerador de verdadeira riqueza, não só imaterial, como material e tangível, reflectida na capitalização económica de um país.
Que saibam defender o direito à cultura, a partir desta realidade indesmentível, como um dos mais elementares direitos humanos, gerador de igualdade e de desenvolvimento para os povos.
Que deixemos a "vergonha", a "culpa" de lado, e de uma vez por todas assumamos orgulhosamente (nunca esquecendo a humildade) de que como agentes culturais, somos criadores de riqueza, e que esse capital (incalculável para lá de todos os estudos), é merecedor de respeito, e mereçe ser apoiado, pois só poderemos continuar concretizando o sonho de evolução da humanidade, que caminha para uma outra consciência social, mais justa e mais equitativa.
Que saibamos exigir àqueles que nos representam e detém o poder político e económico, as devidas contrapartidas, apoios e investimentos, que espelhem o contributo que damos ao desenvolvimento da Europa (a França lidera com 3,4 e Portugal com 1,4 por cento do PIB). Que os governos, e os organismos europeus, os orgãos de decisão da CE, em particular os que tutelam as finanças, reflictam sobre este estudo, e tomem medidas concretas, e passem à acção.
Que tenhamos o merecido investimento na cultura, que mais do que exigência, é uma necessidade indispensável, para a sustentabilidade das economias europeias, e um inestimável (e agora, indesmentível) contributo para o desenvolvimento sustentável do Planeta.

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Este Post foi publicado em simultâneo no blog "Consciência Social"

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