26 de fevereiro de 2009

"Anxos" e "Demónios" nas Eleições Galegas 2009



Como emigrante na Galiza, no próximo dia 1 de Março, não poderei votar. Apesar de viver aqui á já mais de um ano e cumprir com todos os deveres que um normal cidadão cumpre para com o estado espanhol, não terei o direito de voto. Ao contrário, os netos de galegos imigrados na Argentina, como em quase todo o mundo, poderão fazê-lo, apesar de não saberem sequer onde fica a capital da Galiza. É neste contexto, em que decorrem as actuais eleições autonómicas em Espanha que eu me enquadro. Devo dizer que aqui me sinto acolhido como em casa. Sinto-me em casa. Em muitos aspectos, tanto no plano dos serviços sociais, como da administração pública, tenho que dizer que o seu funcionamento é exemplar (á luz do que se passa no meu país). Posso usufrir de todos os direitos a que, um cidadão espanhol ou galego, aspira.
Nestas eleições, não podendo exercer o único direito básico da democracia representativa, posso (ainda) exercer da democracia participativa, que é precisamente o que estou fazendo - escrever o que penso neste blog. Por isso rompi o longo silêncio destas ruidosas semanas de pré e pro-campanha eleitoral para falar dos "Anxos" e dos "Demónios" que por aqui se apresentam.
Não sou, por natureza uma pessoa apologista dos nacionalismos. Os nacionalismos que temos neste momento a emergir e nalguns casos, em destacados lugares de poder de vários governos europeus, são um retrocesso muito perigoso ao terrorífico e negro passado da história europeia. Partidos neo-nazis, de extrema-direita, xenófobos, tem representação nas mais altas esferas dos vários orgãos da União Europeia. São um forte bloco, unido, activo e nalguns preocupantes casos, com grande poder de influência. Assim foi como Hitler chegou ao poder e quase que reinou a Europa inteira, com o aterrador holocasto que destruiu milhões de vidas humanas...
Quando aqui cheguei, naturalmente a minha preocupação era pelo facto de haver um partido nacionalista no poder. Por total ignorância, desconhecia por completo as suas bases históricas e fundacionais. Desconhecia por completo a realidade galega. O seu programa, as suas ideias, os seus projectos e a sua acção no governo. Não é que hoje possa falar com mais circusntância que há um ano atrás. Posso falar da vivência directa e da experiência directa. Este é um nacionalismo de raiz destinta dos demais. O nacionalismo do BNG, como o vejo de fora, é um nacionalismo internacionalista, digamos. É solidário com os povos palestina, Sarauhi, como nós portugueses fomos com o povo de Timor. Teria em Portugal como referência o Bloco de Esquerda. Um movimento de movimentos, um conjunto de várias tendências, que se alinham, desde os mais alternativos - ligados ao Forum Social Mundial, até aos mais centristas, como Anxo Quintana, que buscam o consenso com os Socialistas Galegos do PSdG, partido maioritário no governo de bipartido que governou na actual legislatura.
Como observador interessado, direi que no conjunto e sem ter uma comparação vivenciada, este parece-me ser um bom exemplo de governo: um governo de minoria, onde a negociação é fundamental, onde as políticas são consensuadas e tem que buscar estar acima das visões monopartidárias, típicas dos sistemas maioritários. Um governo em que cada partido tem que prestar contas pelo seu ministério, e simultaneamente ser solidário com as políticas do governo no seu todo. Um governo com uma política social ampla, participativa e dirigida para os interesses dos cidadãos (da Galiza, em particular); que aposta no ambiente, na habitação "socializada", no meio ambiente e no desenvolvimento sustentável. Um governo que tem na inovação uma forte aposta, e que tem feito elevados investimentos nessa área (A Galiza é uma das regiões que mais se desenvolveu nos últimos anos na inovação).
Dizendo de esta forma, poderia ser fácil de concluir quem são os "anjos" e quem são os "demónios" - os outros: os do PP e eventualmente alguns do PSdG, que está "algemado" ás políticas macro-económicas do PSOE e do governo central (e o PP da oposição central).
Esta realidade não é assim tão simples. Direi já, para que não fiquem dúvidas, que se pudesse, votaria BNG. Ainda que nem só de "Anxos" vivam os nacionalistas... também eles tem, como todos, os seus "demónios"... Mas uns tem mais "demónios" que outros. Para mim o maior de todos os "demónios" do PP é a sua política para a imigração. Na pior linha dos nacionalismos xenófobos da extrema-direita europeia. Com isso não posso pactuar.
Também o PSdG tem os seus "demónios", pela sua subjugação aos interesses macro-nacionais da grande Espanha, que o amarram, sem que possa ter uma visão mais local, e que eventalmente, alguns dos seus 'anjos' desejariam poder desenvolver.
No momento actual tudo pode acontecer. Qualquer das forças em combate pode vencer esta batalha. Termino deixando o apelo: entre "Anxos" e "Demónios" que venham os que podem usar do seu direito de voto e que, em consciência, votem - por nós imigrantes que não o podemos fazer.

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