26 de julho de 2007

Solidão e Depressão*

por Rinzin Dorjee

O que é realmente importante é encontrarmos a felicidade e conseguirmos gerir as nossas vidas. Apesar de estarmos no caminho espiritual podemos perdermo-nos num estudo intelectual. Daí que, pensemos que temos que optar por um caminho espiritual ou um caminho material.

Temos duas influências:
1 – A parte mais religiosa – diz-nos que não somos ninguém, somos meros pecadores e

2 – A parte mais científica – ensina-nos que não há nada para além da mente.

E por isso, estamos bloqueados nestes dois caminhos.

Buda, quando passou por este mundo descobriu como ultrapassar este dilema, e por isso, também nós o podemos fazer.

Tanto no Budismo como no Hinduísmo, cada um tem a faculdade de saber tudo. Quando Buda descobriu o segredo do universo sorriu porque se apercebeu que a finalidade de tudo é a felicidade. Quando nos apercebemos da verdade última do universo, sorrimos sem esforço: é a felicidade suprema. Quando nos apercebemos da verdadeira natureza ficamos felizes.

Uma das causas principais da depressão é a solidão. A não-aceitação – rejeição. Cada um está a um nível e ritmo diferentes, logo cada um experimenta de forma distinta.

A nossa primeira reacção a um problema é pensarmos porque é que isto está a acontecer comigo, e ao invocarmos o nosso ego somos conduzidos ao sofrimento. No momento em que nos identificamos com o ego, ficamos separados dos outros e nessa luta contra os outros quem é que pode ganhar?! Temporariamente podemos pensar que ganhamos porque o nosso ego parece forte. Porém, o problema surge quando rejeitamos o nosso ego.

A partir do momento em que deixamos de desenvolver o nosso ego tornamo-nos mais ligados aos outros.

Desde muito cedo criamos o nosso ego na noção de independência.

Outra causa da solidão é a competição, a qual conduz à falta de confiança, que por sua vez provoca a ausência de ligação com o outro. Neste vazio surgem sentimentos como a raiva, o ciúme e a inveja.

Na realidade, estamos sempre ligados. Quando dizemos que há uma ligação entre nós, as pessoas pensam, de imediato, que houve alguma ligação noutras vidas. Isso pode ser verdade mas não é importante. As nossas consciências estão ligadas. Quando não há ligação entre cada um de nós há o sentimento de solidão. A separação física não é a causa da solidão. A causa da solidão é mental.

Uma das formas de combater a solidão é redescobrir a nossa verdadeira natureza. Todos temos a natureza de Buda.

Temos à nossa volta milhares de Budas. Quando dizemos que o Buda que está no universo se liga ao Buda que está dentro de nós, atingimos a verdadeira realização.


Na via do Bodhisatva, que ensina como os seres evoluídos se devem comportar, devemos colocarmo-nos na posição do outro (compaixão). O que se pretende ao trocar o nosso sofrimento pelo do outro não é o de multiplicarmos o sofrimento.

Quando sofremos desenvolvemos uma atitude que vai provocar um sofrimento ainda maior do que a causa que lhe deu origem.

Basta que nos coloquemos no lugar do outro para desviarmos a atenção do nosso sofrimento e experimentamos um alívio. Temos que redescobrir o nosso potencial para podermos controlar a situação em vez da situação nos controlar.

No extremo da solidão surge a depressão. Ficamos no estado da depressão porque adoramos a depressão. Do ponto de vista dos ensinamentos tântricos permanecemos na depressão porque assim o escolhemos.

A razão porque não redescobrimos o nosso potencial é porque a nossa mente está sempre distraída. Uma das ferramentas para o redescobrir é estarmos atentos.

Outra das causas da depressão advém do facto de uma pessoa focar toda a atenção numa determinada situação e todos os outros pensamentos são aglutinados e fundem-se nesse.

O estado da depressão é o melhor exemplo da inexistência da felicidade. É como se estivéssemos fechados numa casa e só olhássemos por uma janela. A causa principal da depressão não é a de termos perdido alguém mas a de querermos permanecer naquele estado, é uma decisão consciente.

Por isso, não podemos fazer tudo de uma vez mas sermos mais flexíveis. Quanto mais agarrarmos a nossa mão mais nos magoamos. No momento em que a soltamos é que descobrimos que nos sentimos bem. Ao atingirmos a verdadeira compreensão da nossa natureza, a solidão e a depressão não são possíveis.

A transformação começa por nós. No Tibete diz-se que termos um karma para sermos ricos não é o suficiente.

O que realmente interessa é como e quão felizes estamos e usarmos essa felicidade para lidarmos com as coisas menos agradáveis da nossa vida. Poderá um rio beber da sua própria água?! Poderá uma árvore alimentar-se da sua própria fruta?! Ao darmo-nos aos outros não vamos perder a nossa identidade. Gradualmente, podemos viver de uma forma menos egoísta e darmo-nos mais aos outros. Desta forma, a nossa vida transformar-se-á…

*Resumo da Palestra “Solidão e depressão” – A nova doença da actualidade (publicado no blog http://artetibetanadacura.blogspot.com)

23 de julho de 2007

Vencer o Medo

"Nego submeter-me ao medo,

Que tira a alegria da minha liberdade,
Que não me deixa arriscar nada,
Que me torna pequeno e mesquinho,

Que me amarra,
Que não me deixa ser directo e franco,
Que me persegue,

Que ocupa negativamente a minha imaginação,

Que sempre pinta visões sombrias,

No entanto, não quero levantar barricadas por medo do medo.

EU QUERO VIVER, não quero encerrar-me.

Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
QUERO PISAR FIRME PORQUE ESTOU SEGURO.

E não quero encobrir o meu medo.

E quando me calo, quero fazê-lo por amor,

E não por temer as consequências das minhas palavras.

Não quero acreditar em algo por medo de acreditar.

Não quero filosofar por medo que algo possa atingir-me de perto.

Não quero dobrar-me, por medo de não ser amável.

Não quero impor algo aos outros, por medo de que possam impor-me algo a mim.

Por medo de errar não quero tornar-me inactivo.
Não quero voltar para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro no novo.

Não quero fazer-me de importante por medo de ser ignorado.

POR CONVICÇÃO DE AMOR, quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer.

Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor.

E QUERO CRER NO REINO QUE EXISTE EM MIM ."

Rudolf Steiner