A história mundial está repleta de exemplos de sociedades que perduraram por milhares de anos vivendo segundo um modelo de vida sustentável. No entanto a humanidade também tem prosseguido por caminhos que têm levado a práticas ecologicamente insustentáveis.
Assim, desse modelo de sociedades humanas, vivendo em comunidade, com estruturas sustentáveis e ambientalmente viáveis, chegaram aos dias de hoje apenas algumas delas. Nas últimas décadas são conhecidas inúmeras Comunidades Indígenas destruidas ou que têm visto as suas culturas e modos de vida ameaçados.
©Alexandre Pereira. Encontro Vida Verde 2005
Para que a humanidade possa prosseguir na sua caminhada evolutiva e com o seu desenvolvimento, é imperativo que seja renovado o seu compromisso para com o planeta, vivendo como parte deste e entendendo o desenvolvimento e o crescimento como processos que podem (e devem) ser sustentáveis, sem o recurso à exploração dos recursos naturais, como a água, os minerais (o petróleo é só o aspecto mais visível) levados a níveis impraticáveis.
'Bolle box', Andreas Möller (esq.); Favela, Humberto
e Fernando Campanas (dir.)
Fundamental para que isso aconteça é a educação e a sensibilização, caminhando do paradigma da separatividade, para outra abordagem; não só na teoria mas também na prática - o paradigma holístico - que coloque de novo o homem na (sua) natureza; uma educação que redefina o papel da tecnologia em relação ao ambiente, que reconheça a interdependência entre o todo e a parte. Este caminho percorre-se com uma visão orientada para um desenvolvimento sustentável, a nível local e regional, com ressonância a nível global, no mundo e no universo. Hoje mais do que nunca a humanidade tem o conhecimento, a sabedoria, a começa a ter a expriência trazida, entre outros, pelo movimento das ecovilas, que lhe permite pôr em acção esta visão.
Como Ser Sustentável?
Os Princípios de Hannover (Expo Hannover 2000), são no meu entender, de entre os muitos documentos publicados sobre sustentabilidade, um dos que lançaram as sementes para uma nova filosofia de design, integrando natureza, humanidade e tecnologia. Estes, inspiram uma abordagem ao design que vai de encontro das reais necessidades e aspirações do presente sem comprometer a possibilidade de o planeta ser sustentável e igualmente capaz de suportar o futuro (por mais sete gerações).
O conceito de sustentabilidade foi introduzido para combinar a atenção com o bem-estar do planeta Terra com o continuo crescimento do desenvolvimento humano. Esta visão inicial, estaria imcompleta, sem intergrarmos outras visões. O meu contributo parte, de uma perspectiva holística.
Na verdade os sistemas na natureza já são capazes de se tornar sustentáveis (á milhões de anos que é assim). Segundo a definição da Comissão Mundial de Ambiente e Desenvolvimento
“encontrar a satisfação das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.” No entanto, esta é uma definição ainda limitada por um ponto de vista humano. A abordagem holística, procura incluir a ideia de uma ecologia global, o que significa que quando falamos de satisfação das necessidades presentes e das gerações futuras, estamos a considerar todos os aspectos e elementos da natureza - humano, animal, vegetal, energético - que vivem uma relação de interdependência.
De que design falamos?
Poderia encontar milhares de referências a sobre design, para falar de várias aboradagens, definições, teorias, correntes de pensamento, para me aproximar de uma 'explicação' possível de design. Mas esse não é o propósito deste tema. O que se procura aqui é encontrar uma 'definição' que seja inclusiva de várias perspectivas, procurando através de uma visão transdisciplinar, encontrar uma outra direcção, um outro caminho, que nos oriente para a evolução para um outro plano de realidade.
Assim, com este enquadramento prévio, direi que o design implica a concepção, realização e a satisfação das necessidades e desejos humanos. O design procurou desde que é conhecido como tal, satisfazer essas necessidades humanas, procurando responder da melhor forma, com as soluções mais adequadas, aos problemas colocados. Não será excessivo dizer mesmo, que de alguma forma o design é um caminho de busca de uma certa forma de felicidade.
Guelas, Elder Monteiro
Neste contexto, surgem os 'humanos' que se dedicam ao estudo e a várias especializações nesta área - designers - e que têm procurado desempenhar esse papel, nalguns casos mais pragmático, noutros visionário, procurando resolver e enquadrar esses problemas, criando toda uma nova corrente de pensamento, de cultura de projecto, com ligações aos mais diversos campos do Saber: psicologia, sociologia, filosofia, estética, arte, comunicação, ciência, religião, etc. Segundo Buckminster Fuller, "o designer é uma síntese de artista, inventor, mecânico, economista objectivo e estratega evolucionista". Esta é uma abordagem visionária, precursora de uma visão holista, que abriu caminho para as gerações futuras, no presente, seguirem os seus passos.
Assim sendo, poderei dizer com toda a tranquilidade, que, 'designers' são todos aqueles que de alguma forma, pela sua acção, modificam o ambiente através da inspiração e da criatividade humanas em relação com a natureza.
Por um design sustentável
Tendo por base estas duas abordagens, muito simples, da sustentabilidade e do design, podemos então, entender de forma mais clara o que pode ser designado por design sustentável. Este está necessariamente orientado para a atenção (awareness) a curto, médio e longo prazo. Coloca o enfoque dessa atenção, não apenas nos resultados, mas também nas consequências de qualquer transformação que se opere no meio ambiente. O design sustentável envolve aspectos como a concepção e a realização de uma expressão humana responsável e ambientalmente sensível, como parte envolvida na matriz da natureza do universo.
As sociedades humanas necessitam de aspirar a uma integração dos elementos material com o ambiental e o espiritual. As tecnologias actuais, assim como os processos e significados tendem a separar estes aspectos, em vez de os integrarem. A natureza usa a energia solar para criar sistemas interdependentes, cuja complexidade e diversidade implicam que sejam sustentáveis.
Por contraste, as sociedades altamente industrializadas extraem energia directamente dos sistemas, o que contribui para a redução dessa mesma complexidade, essencial para a biodiversidade, e para a sustentabilidade do planeta, logo da própria humanidade.
Construção em tela, corda e pedras. Workshop por Martin da Comunidade de Tamera, no Encontro Vida Verde (esq.). Construção usando diferentes técnicas, terra, palha e madeira na ecovila de Tamera (dir.)
Um dos grandes desafios para a humanidade é o desenvolvimento de processos de design que nos permitam, mantermos conectados com o contexto da natureza. Praticamente todas as fases do design, dos processos de fabrico, à construção devem ser reequacionados. O sistema de pensamento assente no paradigma da separatividade, os sistemas de pensamento linear ou os programas de curto-prazo, que justificam a ignorância, a indiferença ou a arrogância não serão, ainda assim, suficentes para destruir o futuro de uma interacção harmoniosa entre o humano e a natureza.
Teremos para isso que empregar o todo o conhecimento actual, em parceira com a sabedoria ancestral, a experiência e vivência humanas, num movimento que resulte num esforço conjunto para conceber e realizar uma transformação de consciência humana, que cuide e mantenha
o planeta Terra.
O espírito dos Princípios de Hannover, foram resultado de vários contributos,das mais variadas comunidades científica, e espiritual, das áreas do design ao ambiente passando pela filosofia. Espera-se que possam evoluir e adaptar-se às preocupações levantadas pelas diferentes culturas, países e todos os Seres sensíveis do planeta Terra, para que assim possamos todos encontrar o caminho que assegure a construção de um futuro em que não esteja comprometida a sobrevivência do planeta Terra.
Que todos façamos o nosso papel, sendo para isso, é preciso imaginar e encorajar a construção no presente de um futuro sustentável.
*Texto de apoio à Oficina/workshop sobre Design Sustentável
Encontro Vida Verde, Odemira, 28 Agosto 2005
1 de maio de 2006
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